Essas questões, todas consideradas de grande importância, geralmente ofuscam uma outra que é tão relevante quanto aos outras para a construção de um sistema escolar eficiente: os conteúdos lecionados.
Em 1976, o geógrafo francês Yves Lacoste publicou uma obra intitulada "A Geografia - Isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra". E claro, seu título gerou muita polêmica. O que Lacoste queria com isso, era demonstrar sua preocupação com a utilidade da disciplina Geografia nas escolas e universidades. Lacoste sabia que a Geografia vinha se tornando uma disciplina morta, como o Latim, que serviria exclusivamente para uma descrição (mantida pela famosa decoreba) do espaço geográfico: relevos, nomes de bacias, formações rochosas,países e suas capitais. Passados mais de 30 anos, notamos avanços na disciplina Geografia. Está cada vez mais incorporando os aspectos da Sociologia, História, Economia e outras áreas de estuda, para avaliar, além da descrição do espaço, a forma como o homem vem se organizando nesse espaço, ou melhor, no planeta.
Porém, as grades curriculares de muitas escolas continuam a exigir conteúdos absurdos aos alunos. Conteúdos que de nada servem, a não ser prepará-los para passar no vestibular. Recentemente, o governo federal alterou a proposta do Enem, com o objetivo de substituir o famigerado vestibular. Essa nova proposta é um avanço, mas está longe de acontecer. Enquanto isso, nossos alunos são massacrados com uma avalanche de inutilidades.
Qual a utilidade em saber a nomenclatura dos hidrocarbonetos? Os nomes dos elementos pertencentes à família dos gases nobres? A utlidade em saber em que data os holandes invadiram Pernambuco? O conceito de sintagma? Matrizes e Determinantes?
A grade é ruim. Matérias são jogadas ao vento. Os alunos se perguntam "para que isso?" e ninguém os responde. O conteúdo deve fazer sentido para o aluno. Ele não é uma tábula rasa. Sabe o que quer aprender. Quer conteúdos interessantes, que estejam ligados entre si, que estejam ligados à sua vida e à sua sociedade.
De quem é a culpa por tudo isso? Os professores e a direção, desatualizados todos? Antes de botar a culpa somente neles, é preciso lembrar que professores e diretores são guiados pelas currículos elaborados pelo governo. A mudança de atitude deve começar pelos Programas Nacionais Curriculares. Além de modernizar suas concepções, o governo deve garantir a aplicação de tais concepções, daí a importância da valorização dos projetos de formação continuada. Não só nas escolas primárias e secundárias: deve também reoorganizar o sistema universitário, pois ele é quem faz a manutenção desse sistema, lançando, todos os anos, mais professores no mercado.
O vestibular precisa mudar seu formato urgentemente. Mas ele não é o protagonista desssa história. É só um, dos muitos sinais de que o sistema de educação brasileiro é arcaico. Que isso mude logo. Ninguém aguenta mais chutar, digo, aprender conteúdos mortos. Enterremos de vez esse sistema em putrefação.