segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Pressa pressa


Pressa Pressa, vamos nessa. Depressa depressa, não me estressa. Vai, vai. Café com pão café com pão. Eu preciso ser rápido. É meia-noite. Já estou dentro da segunda-feira. Ó, meu Deus, como o tempo passa. Preciso ser rápido; acabar esse texto. Preciso dormir. Antes, preciso escovar os dentes. Tomar banho. Preciso amar. Mas calma. Vou devagar. Devagar como um louco. Sereno como um assassino puro.Vida. O que temos feito dela. O que temos feito com ela. O mundo tem girado cada vez mais rápido. Time is money. Hurry is money. Nunca o tempo foi tão contado. E nunca foi tão perdido. Vive-se o amanhã, o dia depois de amanhã. O mês que vem. Financiei minha vida em suaves prestações. Juro? É especial: um pouco de morte vai se somando.Foi-se a espera. Foi-se a paciência. Jantamos o porvir todas as noites. Jogamos fora todo o nosso hoje. O passado é sempre museu.A poesia resiste. O erotismo cedeu. Pornografia é o negócio. Mais rápido, depressa, sem enrolação. Time is money. Sex is money. Pra que tirar? já venha sem! Pra que pensar: aja, faça. A noite resiste, O dia insiste. Troca-troca. O dia resiste, a noite insiste. Insônia insônia: dia e noite se comendo.Insônia, cada vez mais funda. Acorde, levante. Pense. Não pense. O que você deixará para seus netos? Você deixará netos? Você se deixará?. Previdência. Ciência: tudo novo de novo. Pense, repense. Aja, reaja. Corra corra. Morra morra. Tempo, tempo, mas que porra. Calendário. Despertador. Hora do remédio. Da novela. De lavar a louça. Ano que vem, vou comprar um carro. Vou ter um filho. Hora para escrever. Hora para estudar. Acorde-me às sete. Não se atrase. Em ponto. Daqui a dois anos, serei famoso. Vou ter um carro. Comprar um filho. Crônometro. Tabelinha. Ampulheta. Sol. Vamos nessa, entre no ritmo. Cada vez mais rápido. Mais rápido. Dane-se a calma, meu chefe é exigente. Esquecer a calma do louco. Abandonar a serenidade: mato e pronto. Rápido, barulhento. Ser normal é correr, ter pressa. Somos felizes. Sim, somos. Formigas loucas, baratas tontas. Vamos vivendo, levando, correndo.A vida é o passar do tempo: passatempo. A vida no fio. Na fila. Vamos, palavras, vamos que tenho pressa. Quero o amanhã, queremos o depois de amanhã. Infinito mais um. A morte é o brinde. Não tenho tempo. Corte linhas desse texto. Acelere mais fundo. Vai vai, time is time. Amanhã amanhecerei. Mais rápido. Fast-food. Fale mais rápido. Case mais rápido. Cadê meu café? Amanhã faço bodas de prata. Sim, eu serei famoso. Depressa, depressa. Três minutos de acréscimo. Últimos lances. O banco fecha, sempre, às quatro. De quatro. Tire logo essa saia. Follow me. Follow me on twitter. De novo. Mais rápido. Rapidshare. Rapidinha. Vamos, mulher. Seja breve, tenho pressa. Precoce. Ela já tem quinze anos. Estamos em 1999. Cinco, quatro três... três, sim, eu disse três. Três pães, menina! Ande logo! Tenho pressa, meu chefe é exigente. Vamos lá mundo, em sequencia, perfilados, café com pão café com pão. Pressa pressa, vamos nessa.Pressa pressa eu tenho pressa.
Eduardo Silveira

6 comentários:

ítalo puccini disse...

legal o ritmo desse texto. me lembrou muito o gabriel pensador. rs...
gostei!

cara, como tu escreves, hein?!
é blog pra caramba!

parabéns pela dedicação.

abraço.

Daiane da Silva disse...

Edu,

Não vou utilizar este espaço para tecer elogios aos seus textos, pois seria suspeita para falar deles, sendo que sou sua namorada e adoro seus textos... hehe (aff, tudo bem... vamos ao que interessa).
Ao ler esse texto, parei para pensar neste mundo frenético em que vivemos. As várias tecnologias misturando-se com a vida das pessoas. Nesse turbilhão, as pessoas acabam aceitando o ritmo alucinante do mundo moderno e sofrendo muito com isso.
Como reza o provérbio popular “o apressado come cru.” E come mesmo. Pra que pressa? O apressado não vê a vida. Ele não passa pela vida, a vida é que passa por ele. Na pressa, esquecemos de pensar e analisar o outro lado, oculto aos olhos apressados. A pressa, salvo os casos de sorte, normalmente faz as pessoas perderem mais tempo.
Por isso, deixo aqui o meu recado: Vamos devagar, vivendo a vida com qualidade. Mas não demoremos demais. Uma coisa é ir devagar para fazer as coisas com qualidade, e outra é ir devagar quase parando.

Um abraço à todos os colaboradores do blog.

Eduardo Silveira disse...

=D

Wellington Nardes disse...

Dentro de dois dias posto meu comentário. Abraço!

Wellington Nardes disse...

No ritmo frenético da cidade grande as pessoas que atingem o equlíbrio emocional oriundo da serenidade, da mansidão e da nobreza, é digna das minhas singelas congratulações. Missão impossível abordar uma pessoa no centro de Joinville para pesquisá-la a respeito de algo de importante relevância social; tenho certeza que dez a cada dez pessoas dirão que estão com pressa como se estivessem vivenciando eternos deadlines. Falta de tempo é uma patologia crônica num mundo quase todo capitalista e globalizado onde a tecnologia encurta as relações sociais. O único ser capaz de interromper a passagem retilínea das pessoas pelas calçadas da cidade grande é um "palhaço triste" que em pleno século XXI aplica perfeitamente a política do pão e circo. Talvez um paradigma extremamente utópico, mas ainda sonho com dias melhores onde todos viverão bem mesmo com a correria e com o chefe exigindo produção dobrada no próximo mês. E a switch dessa história contada de modo esplêndido pelo Eduardo ocorre todos os dias, basta ir ao décimo andar do edifício Turin e vir a minhoca de lata descarregando as multidões nos pontos da JK e outros pingos movimentando-se pela João Colin, todos com pressa.

Parabéns Eduardo pelo texto!

E viva a Academia de Escritores!

Manoel Farias disse...

O texto expressa bem o que passamos durante a vida, quanto mais velho ficamos, com mais pressa queremos realizar nossos sonhos, e acabamos sem perceber que estamos prestes a cair na monotonia da rotina.
E esse é um dos problemas da humanidade, cair na rotina, e deixar que relações amorosas perfeitas acabem por indícios cretinos de tédio, ou então de mesmice; tornando cada pessoa mera peça no tabuleiro do capitalismo desvairado, que por sinal está em mais uma crise.
Será que é impossível aproveitar toda uma vida sem sermos absorvido pelo "monstro" da rotina?
É essa que muitas vezes, junto com uma derrota ou desgosto leva as pessoas à depressão.
Parar um pouco, curtir as belezas que a retina forma, um céu límpido, um cachoeira formando aquele véu de noiva, ou até mesmo a simples flor que nasce no chão britado e escorraçado pelas pisadas humanas.
É como diz a música dos Engenheiros do Hawaii, Quem Tem Pressa Não Se Interessa.

Um ótimo texto! Parabéns.

Abraços Manoel Farias